Antifrágil: Como estresse e eventos inesperados podem ajudar seu time.

Robustez, resiliência, invulnerabilidade: Sempre pensei e tentei colaborar na formação de times que refletissem essa tríade. Porém, após leitura do livro Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos de Nassim Taleb, resolvi trocá-la por apenas uma palavra: Antifrágil. Isso! Quero colaborar com a construção de times Anti Frágeis e lhes contarei a grande diferença.

Não conheço profundamente a obra desse escritor (#mybad!). Mas acho que você deve estar se perguntando quem diabos é Nassim Taleb? Ele é um estatístico que gosta de análises de riscos e fala sobre o quanto podemos aprender A reduzir nossa fragilidade em relação aos acontecimentos inesperados e suas consequências, boas ou ruins. Isso me chamou bastante a atenção.

Quando eu era Scrum Master, cansei de ouvir que uma das minhas principais funções era de blindar o time para que ele conseguisse trabalhar com fluidez. Mas blindar do quê? Atravessadas do P.O? Mudanças de escopo? Problemas em produção? Interferências de outros setores? Sempre me perguntei até onde isso era benéfico e se realmente estava colaborando para a fluidez das entregas ou se estava formando um time mimado com indivíduos incapazes de levantar seus traseiros da cadeira para discutir um problema. Afinal, isso era uma interferência e meu papel me obrigava a  resolve-la!

Após estudar um pouco sobre Antifragilidade, posso rudimentarmente  defini-la como, a capacidade de se fortalecer/aprender quando expostos a acontecimentos inesperados (interferências) que funcionam como vacinas. Ou seja,  um pouquinho do “ofensor” capaz de imunizar um organismo.

Olhando para minhas experiências, entendo que isso parece fazer algum sentido. Poderia citar uma série de ações, onde, mesmo sem intenção, fragilizei meus times apenas por achar que precisava blindá-los a qualquer custo. Com certeza, isso explica os problemas na fluidez das entregas quando tiveram que se deparar com “o vírus” sem a proteção de vacinas.

Na adversidade e no caos é onde surgem as idéias mais inovadoras. Nada de extraordinário, na história da humanidade, surgiu de uma situação de conforto, não podendo ser diferente em desenvolvimento de software.

Nosso papel como Agile Coaches não está, de forma alguma ligado a proteção dos times, mas sim em prepará-los para não serem frágeis. Não podemos controlar nem prever a intensidade dos acontecimentos inesperados, porém, podemos aproveitar algo interessantíssimo em nossa preparação diária: – Os agentes estressores.

Agentes estressores.

Nosso corpo recebe informações sobre o meio ambiente através de agentes estressores. O estresse da exposição ao  sol em  uma pessoa de pele branca é o que faz ela ficar um pouco mais morena. O estresse causado pela fricção das mãos no guidão é o que  cria os calos em quem anda de bicicleta.  Posso citar uma série de exemplos, mas o importante é entendermos que nosso organismo responde e se adapta para criar novos mecanismos com a exposição aos agentes estressores.

Uma pedra jamais terá uma resposta adaptativa com a exposição ao sol, ela pode até se desgastar devido às condições climáticas, mas jamais vai adaptar sua estrutura mediante qualquer agente estressor.
Acredito que times se assemelham mais a organismos vivos do que a seres inanimados como uma pedra, portanto,a chave da antifragilidade talvez esteja em encontrar e expor o time a agentes estressores para que ele crie seus mecanismos adaptativos. Sabe aquele  Sprint de 15 dias?  E se você lançasse um desafio de sprints semanais? Fácil? E se então o desafio fosse diário? Uma entrega de valor todo dia! Como você trabalharia com o PO pra isso? Como o time se organizaria? Como você trabalharia o que está sendo externalizado? Estresse transmite informação! Quais os Insights você poderá trabalhar nos próximos passos?

Mexer com time-boxes  é apenas uma idéia, com certeza você já teve muitas outras lendo esse post até aqui. Mas queria ainda adicionar um último pensamento a respeito de agentes estressores: – Precisamos utilizá-los moderadamente com tempo para recuperação. Voltando ao exemplo do início, a exposição sem medidas ao sol pode além de uma queimadura, gerar um câncer, portanto, seja qual for a sua estratégia, sempre considere um período de leveza e recuperação após o período de estresse. O time precisa assimilar, conversar a respeito e principalmente observar os novos mecanismos desenvolvidos. Se não fizer isso, seu time pode se lesionar seriamente e todo o trabalho de antifragilidade ir por água abaixo.

A foto de destaque do post foi adquirida no BluIz60 / Shutterstock.
Mostrando 5 comentários
  • Samuel Cavalcante
    Responder

    Muito bom o Post.
    Já me falaram deste livro, colocando na fila.

    Estressar o sistema com sprint de 1 dia é um pouco do que fazemos no EVDnC (http://k21.com.br/evdnc/) K21, com o cuidado trabalhamos com mais de uma percepção (2 ou 3 Agile Coachs). Um dos cuidados como você citou é evitar que o sistema entre em colapso.

    Independente do EVDnC, já fiz experimentos de o time traçar metas diárias que ajuda muito.
    O que acho mais difícil é saber como do que temos que “blindar” o time.

    • João Reis
      Responder

      Excelente contribuição Samuel…
      Queria conhecer um pouco mais do EVDnC! Posso te fazer algumas perguntas?
      1 – Existe algum trabalho pós pra conseguir esse efeito de estresse e descanso?
      2 – Vocês conseguem perceber os mecanismos de adaptação sendo criados após quantas rodadas?
      3 -Vocês conseguiram estressar controladamente algum outro ponto que não a mexida com time-boxes?

      Quanto a blindar, será que temos? tenho me perguntado isso, mas ainda não tenho a resposta completa!

      • Samuel Cavalcante
        Responder

        Grande João.
        Respondendo:
        1 – Sim. Tentamos manter um acompanhamento por 3 semanas. Com o intuito de auxiliar a galera a manter o aprendizado e fazer adaptações no processo a partir dos aprendizados. dentre outros.
        2 – Na minha opinião, logo na manhã do primeiro dia. Depois de conseguir fatiar algo que as pessoas acreditavam ser “impossível” fatiar…
        3 – Não sei se entendi a pergunta. Mas o estresse vem naturalmente, com o objetivo de entrega diária. É natural das pessoas ficarem frustradas se não atingirem o objetivo e tendem a fazer seu melhor para atingir esse objetivo, gerando o estresse. Isso é bom pois conseguimos observar coisas como: -Fazemos os testes ou não? – O conhecimento está centralizado. e ai vai…..

        Sobre a blindagem é um bom papo para HH, ou um vídeo. O que acha?

        • Jana Pereira
          Responder

          Ótima ideia, Samuel! Já adicionei no card. =D
          João, excelente o post! Mais um livro para o backlog.

  • Rogerio Bauer
    Responder

    Muito bom João, parabéns pelo Post.
    Concordo que a exposição moderada é benéfica ao aprendizado, adaptação e transformação.
    Durante a leitura do post me veio a cabeça que essa abordagem também pode ser aplicada em outros contextos de uma empresa, não só a times de desenvolvimento.

    Grande abraço.

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